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Rua Dr. Sena

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Casarão do José Vítor

Casarão do José Vítor

Casarão Eclético, de valor artístico em estado de abandono, com paredes escoradas atualmente. Junto com o chafariz confeccionado pelo mesmo autor compõe o conjunto Arquitetônico e artístico da Rua Dr. Sena. Obras do artista plástico José Vitor.

Merece programa de proteção e de revitalização patrimonial.

Adota o estilo eclético, edificada no alinhamento da rua, assentada em terreno de grandes dimensões, com pomar bastante antigo e portanto com árvores, tais como mangueiras e abacateiros centenários de grande porte. trata-se de casa de porão alto, construída em tijolos cerâmicos, com pisos em terra batida e tabuado sobre a área do porão. Apresenta partido retangular com planta com três cômodos apenas. A fachada principal tem quatro vãos de janelas, dois em cada pano delimitado pelos simulacros de pilastras; com o pano do baldrame revestido de argamassa lisa. Os óculos do porão têm acabamento losangular. O friso entre o porão e o pavimento superior apresenta sistema construtivo esmerado com tijolos em balanço e depois revestidos. O baldrame da lateral esquerda deixa a vista o sistema construtivo de pedra seca.Todos os vãos externos apresentam vergas em arco pleno. A cobertura é arrematada na parte frontal por platibanda com perfil em dois círculos. Os acessos se fazem por portas nas laterais e uma aos fundos. Tem área projetada de 59,00 m² aproximadamente.

Narrativa

“Vida e Obra de José Vitor Gomes” 

(texto de Alenice Baeta, Cristina Cairo e Marco Antônio de Souza)

José Vitor Gomes, natural São Gonçalo do Bação, nasceu em 1894, na época pertencente ao território de Ouro Preto (até 1922), hoje, parte do município de Itabirito, MG, tendo falecido no ano de 1969. Foram 75 anos de muita criatividade, arte e dedicação a São Gonçalo do Bação e ao seu povo.

 “(…) era um gênio que se desdobrava em atividades como pedreiro, escultor, pintor, músico, escritor, inventor, entre outras. Embora existam relatos de sua baixa escolaridade, José Vitor atraía diversas personalidades e políticos interessados em observar e aprender com a sua genialidade” (BAIÃO, 2022).

Segundo depoimento da Sra. Divina do Espírito Santo, 94 anos, do Solar Moura Lima, moradora de São Gonçalo do Bação: “José Vitor era um homem muito inteligente, discreto e de bom coração. Ele era músico e artista. Tocava na banda, cantava e dava aulas de música. O Padre Antônio Cândido criou a banda e a mantinha. Os instrumentos musicais eram da banda, sendo que José Vitor tocava alguns deles, tais como: órgão, harmônica, trombone e saxofone. Era um homem baixo e com pouco cabelo. Muito religioso, costumava dormir em uma cama constituída por uma tábua de madeira com um cobertor fino.” O pai da Sra. Divina, foi visitar José Vitor em sua casa e ficou impressionado com a simplicidade e a sua dedicação religiosa. Ele era muito católico, possivelmente queria se purificar dormindo somente sobre a tábua. Ele também projetava peças sofisticadas de madeira. Ficou famoso o relógio, inaugurado 1m 1931, compostos ainda por pregos e material reciclado, como caixas de latas e garfos, montado de forma muito meticulosa para acionar os badalos dos sinos em horários determinados na torre da Igreja de São Gonçalo Bação. (BAIÃO, 2022)

Sua casa é um exemplar magnífico de construção civil eclética e de seu estilo. São deles os distintos chafarizes de tijolinhos, pedras e argamassas espalhados pelo centro histórico de Bação na ocasião das obras do prefeito de Ouro Preto, Dr. Joaquim Cândido de Costa Sena, visando a captação e a distribuição de água em São Gonçalo do Bação, em 1920. Em frente à sua casa, inclusive, há um importante exemplar que faz parte do conjunto de chafarizes de sua autoria.  Os demais chafarizes que também resistiram ao tempo e ao vandalismo são os seguintes: dois na antiga rua do Arraial ou Areal, um na rua do Tombadouro, um na antiga Volta da Lagoa, e outro na rua do Cruzeiro. O conjunto de chafarizes necessita de um programa de revitalização e valorização patrimonial e artística urgente.    

O Sr. Jaber Damasceno, 79 anos, vizinho da bela casa de José Vitor e grande conhecedor da sua obra, conta que o artista-construtor tinha, na época, uma olaria onde produzia os tijolos usados em suas obras. Costumava também deixar inscrições nos tijolos com o intuito de registrar e identificar os feitos construtivos. Há um tijolo com a data 1920, associado à ocasião das obras dos chafarizes. A última pedra assentada na reforma da Igreja de São Gonçalo do Bação, foi inscrita com os dizeres de José Vitor indicando o dia e o ano de sua finalização, 08 de abril de 1924. Nos tijolos, pede proteção a todos que trabalharam na obra da matriz – relíquias peculiares de sua obra e atributos. Ele seria ainda o autor, na matriz, segundo registro do Livro do Tombo referente a esta obra na Igreja de São Gonçalo do Bação, de duas pias de pedra, feitas somente em 3 dias com uma maceta e um ponteiro, sem molde. Consta ainda, dentre as demais atividades de assentamento de lajes na mesma, que são de autoria as inscrições na frente do adro, do lado esquerdo, “Viva Jesus” e do lado direito, “Ave Maria”.

Era inventor e projetista. Havia uma fresta na fachada da casa de José Vitor que propiciava o raio de luz atingir um espelho na porção interna de um cômodo que despertava José Vitor. Um relógio de luz solar. Dentre seus vários inventos, teria construído uma espécie de “bicicleta com asas”, cujo voo experimental teria sido terminantemente proibido pelo então padre Bernardo,  que o fez desistir deste projeto mais arrojado e arriscado.  

É possível notar elementos artísticos e estilísticos de José Vitor em túmulos remanescentes das décadas de vinte e trinta do século XX no cemitério da Capela Nossa Senhora do Rosário. Em um deles, há um anjo que indicam ser parecido às duas esculturas, também de anjos que ficavam assentados na parte superior e externa de sua casa quando ele era vivo, mas que desapareceram. 

“José Vitor Gomes faleceu no ano de 1969 e o prefeito de Itabirito da época, José Bastos Bittencourt, prestou-lhe justa homenagem denominando a escola de Teixeiras, localidade próxima a São Gonçalo do Bação, de Escola Municipal José Vitor Gomes”. (BAIÃO, 1922)

Avaliação do estado de conservação/data/sugestões

Encontra-se em estado de abandono. Perdeu a cobertura original, praticamente todo o revestimento e esquadrias. Atualmente, o casarão está visivelmente em ruínas e com as pareades escoradas. Merece urgentemente um projeto de revitalização, tendo em vista a importância desta obra arquitetônica eclética e peculiar do artista e músico José Vitor. Sua memória merece ser guardada com carinho e respeito.

Observações

-Esse conjunto de inventários foi elaborado exclusivamente com o objetivo de registrar os bens culturais indicados pela comunidade de São Gonçalo do Bação para atender ao programa de sinalização, registro digital e valorização dos Circuitos Becos, Chafarizes e Atrativos Históricos; - O conteúdo dos inventários, caso usado em relatórios, outros tipos de inventários e ou publicações deverá ser devidamente citado, seguindo as regras da ABNT; - A autoria das fotos e a origem do acervo iconográfico (seja acervo pessoal ou familiar) deve ser citada.

Responsáveis pelo preenchimento

Artefactto Consultoria - Alenice Baeta, Cristina Cairo, Hudson Faria e Pedro Loredo

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